Brotando
A pequena menina de pele branca e rosto delicado olhou rapidamente para o chão, coberto de folhas. A terra da floresta estava úmida, assim como as folhas das árvores ao seu redor. O cheiro de mato molhado chegava ao seu pequeno nariz.
Elina estava imóvel montada sobre Sahar, um grande leão e seu melhor amigo. Ambos estavam escondidos entre densa folhagem, esperando. Vestida em tons de verde e marrom com seu tope e short de seda fina, feitos com a maestria da qual somente os elfos são capazes, ela conseguia sumir rapidamente entre as folhas, quando achava conveniente. A menina de cabelo curto prestava atenção aos sons da floresta à sua volta.
As folhas farfalhavam com a leve brisa e um pássaro cantou ao longe. Uma pequena e bela folha esculpida em um cristal verde translúcido pendia de um cordão em seu pequeno pescoço no momento que ela levou a delicada mão à bainha amarrada no seu braço e sacou silenciosamente seu punhal. Ela sentiu o pelo macio de Sahar entre seus dedos e o calor vindo grande animal que sustentava o peso do seu pequeno corpo. A presença do leão sempre trazia a ela uma enorme sensação de segurança.
Ambos estavam imóveis, agora, aguardando. De repente, muito de leve, Elina pôde ouvir um galho quebrando a alguns metros. Silêncio total, a tensão cresceu. Somente os passos de alguma coisa que se aproximava, em meio as grandes folhas ainda úmidas do sereno da noite passada.
Passo, passo, passo,… parou. Elina respirando com cuidado para não fazer barulho, estava com toda a atenção voltada aos sons… Novamente o pássaro à distância fazendo barulho. Sahar absolutamente imóvel, mas agora agachado, pronto para seu bote.
Passo, passo e de repente, o leão pulou de entre a folhagem, com a menina agarrada sobre suas costas. Elina que já estava pronta e ao perceber o movimento do amigo, localizou com um lance de olhar a gazela e se projetou de sobre as costas do leão diretamente na direção da presa. O golpe foi exato e de uma única vez, o punhal de Elina enterrou-se completamente até o punho no pescoço do animal, enquanto a menina agarrava-se para se manter firme sobre a presa. Ela puxou o punhal com decisão e a gazela se contorceu. Rapidamente Elina ficou coberta de sangue. O animal lutou por alguns minutos, e enquanto o sangue jorrava a decidida menina cravou novamente a lâmina, dessa vez puxando-a de forma a matar mais rápido. Logo, a gazela jazia no silêncio do chão.
Elina, coberta de sangue, olhou Sahar e ele assentiu com a cabeça, em sinal de aprovação. A menina se aproximou do corpo inerte e se ajoelhou, colocando a lâmina do punhal entre suas pequenas mãos, abaixou a cabeça e começou a rezar em voz alta:
– “Às forças da floresta, agradecemos a comida que sempre nos deram. Às forças de nossa terra, agradecemos a fertilidade de nosso solo e a vida em nossas águas. À nossa presa, o perdão pelo sofrimento que pudesse ter sido evitado. Aos ventos do mundo, reivindicamos essa presa como nossa, gratos por sua dádiva. Em nome do grande Ciclo, que a ninhada cresça forte e bela.”
Sahar virou-se para a menina, com um ar de aprovação:
– Isso, criança, nunca esqueça: sempre respeite sua presa. Ela é uma dádiva, e deve ser tratada com carinho. O Ciclo nos traz alegria e dor, a todos nós. E é com isso que crescemos.
Elina olhou o leão e sinalizou que sim com a cabeça e sorriu, agora um sorriso alegre, de criança.
Ela está feliz e orgulhosa de si mesma, pensou Sahar.
A menina levantou-se de um salto, empunhou novamente a lâmina e se pôs a carnear o animal, cantarolando. Rapidamente, aquela que há pouco tinha sido um ser cheio de vida, tornou-se uma carcaça vazia.Elina acomodou a carne em um feixe amarrado nas costas de Sahar e ambos partiram rumo ao rio, para limpar a carne e tomar um banho.
By Jim Bruno Goldberg