Elina, Sahar e Dag continuaram sua jornada, rumo à cidade dos humanos.
Os dias ensolarados corriam tranquilos, conforme eles avançavam com firmeza. A amizade de Elina e Dag evoluía a olhos vistos, enquanto conversavam pelo caminho. Até Sahar teve que admitir que o humano parecia uma boa pessoa, sempre prestativo e alegre. Apesar disso, o leão estava preocupado com a intimidade que rapidamente se instalou entre os dois. Elina era uma criança ingênua e, em sua opinião experiente, passou a confiar muito rapidamente naquele jovem homem que era, na verdade, um quase desconhecido.
Mas a menina parecia bem: alegre e animada, brincava com eles durante a viagem. Os dois cantavam, contavam histórias e piadas.
Na segunda noite que eles passaram juntos, Dag acabou dormindo cedo e Sahar aproveitou a oportunidade para chamar Elina para longe da fogueira, para conversarem:
– Criança, queria falar contigo a sós. Por isso te chamei para longe.
– Sim, Sahar? O que houve?
– Nada, pequena, nada. Mas estou preocupado. Tenho notado que estás ficando muito amiga do jovem Dag e isso me preocupa.
Elina olhou o rosto do leão parcialmente iluminado pela lua, confusa. Sahar notou que ela não fazia ideia do que ele estava falando, portanto continuou:
– Pequena Elina, sei que gostas dele e entendo isso. Ele é o primeiro humano, como tu, com quem passas mais tempo. Ele parece ser uma boa pessoa, não me entenda mal, mas acho que precisas tomar mais cuidado. Ele é praticamente um desconhecido e os humanos não são como os elfos, nem sempre eles são o que parecem…
Elina estava chocada e chateada com a crítica.
– Sahar, o que queres dizer com isso? Sei que não gosta dele, mas nunca pensei que iria fazer fofoca desse jeito. Ele é uma boa pessoa. – enquanto falava, a tristeza de Elina com o que havia escutado estava se tornando rapidamente em indignação – Por que está fazendo isso? Ele é meu amigo e eu gosto dele, sim!
– Elina, não me entenda mal… - tentou explicar o leão, mas a menina estava muito irritada:
– Como não te entenda mal? Dag é meu primeiro amigo humano e você me chamou aqui para falar mal dele… Sabe o que é isso, Sahar? Ciúme, isso sim. – o leão não tinha tempo nem para abrir a boca e defender-se - Você está triste por que agora tenho outro bom amigo que não é você e está usando o fato dele ser humano para atacá-lo. Pois bem, tenho uma novidade para ti, Sahar: Eu também sou humana e também tenho todos esses defeitos que dizes que ele tem. Talvez nos mereçamos…
– Mas Elina não é isso… - O leão estava sem saber o que dizer, não esperava essa reação da menina. – Não estou dizendo que ele é uma pessoa ruim, estou dizendo que ele pode não ser o que aparenta…
Mas a menina estava indignada e simplesmente não estava mais escutando o que ele dizia:
– Sahar, estou muito chateada com isso que acabou de me dizer. Eu sei que não gosta dele e sei que está com ciúmes, mas não importa: ele é meu amigo e não vou me afastar, não importa o que você diga. – Elina estava realmente muito decidida. – E acho que está na hora de deixar de implicâncias com ele. Ele é um cara ótimo e ele vai ficar conosco. Acostume-se com isso…
Dizendo isso, Elina bufou e virou suas costas para Sahar. Ela levou alguns segundos para se acalmar um pouco, então suspirou profundamente e disse:
– Nossa conversa está acabada. Não vamos mais falar disso.
E com isso, enquanto Sahar a olhava, ela voltou para a fogueira, onde se deitou para dormir.
O leão estava atordoado e triste. Tinha saído tudo errado. Elina estava chateada com ele e agora não ia mais ouvi-lo. O humano tinha ficado no papel de vítima e Elina estava ainda mais próxima a ele, agora.
Foi a vez do leão soltar um profundo suspiro.
Parecia que a situação estava se complicando e ele não sabia como agir. Sua esperança agora estava em torcer para que Dag fosse realmente o tipo de pessoa que se mostrava ser, mas com humanos, era sempre uma dúvida. Sahar já havia visto muitos serem enganados por humanos mal-intencionados. A única coisa que queria de Elina – cautela – era algo que agora mesmo ele não mais conseguiria obter.
Sahar olhou para a lua e pediu para a mãe do mundo que protegesse sua pequena menina e o inspirasse a fazer o que é certo.
Depois disso, ele virou-se novamente e voltou ao acampamento. Deitou-se ao lado da menina, como fazia toda a noite, de forma a proteger o pequeno corpo do vento frio da noite.
Sahar dormiu um sono inquieto, aquela noite…
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By Jim Bruno Goldberg