Naquela noite, Sear estava pensativo em sua casa, olhando para as luzes das plataformas vizinhas quando Elina chegou.
Ela alcançou a plataforma e cumprimentou o chefe da vila com um acenar da pequena cabeça, seus cabelinhos caindo de leve na testa.
Desde que Sahar foi buscá-la na casa das donzelas e disse a ela que Sear gostaria de conversar, a menina ficou um pouco inquieta, intimidada com a ideia de conversar com o chefe de toda a vila. Agora, frente a frente com aquele grande e antigo elfo, toda sua agitação havia dado lugar à timidez e ela estava muda, sem saber o que dizer.
Olhou para ele, um pouco nervosa e arriscou:
– O senhor queria falar comigo?
O elfo, abriu um sorriso, divertido com a timidez da menina.
– Sim, menina. Quero. – o tom em sua voz era sério, mas bastante amistoso.
De repente ele se lembrou porque a havia chamado e seu coração voltou a ficar pesado.
– Elina, preciso pedir um favor. Preciso que ache uma pessoa para o bem de nossa vila…
– Eu? Achar uma pessoa? Onde? Por quê? Por que eu? Que pessoa?
– Calma, calma, Elina. Eu explico. Precisamos que ache Thea, do unicórnio. Ela é uma antiga elfa, guardiã da cidade de Viss e descendente direta do povo daquela cidade. É de suma importância que a ache e a convença de levá-la às ruínas da cidade. – os olhos da menina brilhavam de excitação e Sear se perguntava se estava fazendo a coisa certa. Elina era a criança mais bem treinada que tinham, mas ele estava incerto de mandar uma criança tão nova para uma tarefa perigosa.
Apesar disso, Renar o aconselhou a não escolher ninguém com mais de 10 anos para a tarefa, por que podia estar contaminado. Além do mais, ela era humana e talvez estivesse menos sujeita a curiosidade dos humanos que os pequenos elfos.
Ainda assim, a pequena Elina lembrava muito mais uma criança elfa que uma criança humana. Sear deu mais um suspiro profundo.
– Pode ser muito perigoso, criança, não se iluda. Mas a verdade é que precisamos que vá às ruínas da cidade e busque o Livro da Vida e da Morte dos elfos. Thea deve ter ideia de onde está.
– Livro da Vida e da Morte? – aquela história estava ficando estranha. Elina estava com um mau pressentimento – Para quê o senhor quer isso, chefe? – ela perguntou desconfiada.
– Renar precisa dele para curar a doença que está se abatendo sobre nossos amigos. – Sear não queria assustá-la e tentou ser suave. Achou que não ajudaria em nada contar toda a verdade à pequena donzela – Mas tenho que dizer que é uma tarefa muito importante. É perigoso, Elina, mas sou obrigado a te pedir isso. Quero saber se você faria isso por nós. Não se sinta encabulada em negar. Estamos pedindo um favor e nada a obriga a aceitar.
– Claro que eu vou! – A menina estava excitada com a expectativa da aventura se aproximando. Milhares de ideias passavam em sua cabeça. Finalmente ela iria conhecer outros lugares, que não a vila e estava se sentindo importante. Um sorriso claro e límpido estava estampado nos pequenos lábios e ela olhava “o chefe” com uma felicidade que o deixou ainda mais desconcertado. Na verdade, no fundo ele desejava que Elina não aceitasse e com isso ele não se sentiria tão culpado se algo desse errado.
De repente uma dúvida alcançou a agitada mente da menina:
– Mas… Fares e Sahar não me deixam sair dos limites de nossa terra. Como poderei procurar a elfa?
– Já conversei com Fares e Sahar irá contigo. Fique tranquila, não estarás desobedecendo a tutora ou ao instrutor. Todos estamos de acordo. Fares já está preparando tuas coisas.
– Certo. – disse decidida a menina e olhou feliz para Sear. Nisso, ele abriu uma pequena bolsa que estava atada a sua cintura e retirou um pequeno medalhão feito de âmbar esculpido com diversos símbolos à sua volta que Elina não conhecia. O centro vazado exibia uma bonita pedra vermelha transparente que parecia emitir um pouco de luz própria. Sear o ofereceu com as duas mãos estendidas na direção de Elina, que o pegou.
– Leve isso e entregue a Thea. Ela sabe do que se trata e vai saber o que fazer. Guarde com cuidado, isso é um símbolo muito importante para todos nós. – Elina levou instintivamente a mão ao pequeno pescoço, onde pendia a folha verde, esculpida em uma pedra bastante parecida com a vermelha, porém de uma luminescência menos brilhante e mais profunda. Fares havia explicado a ela que a folha era um presente que os elfos a haviam dado, quando a adotaram e que ela sempre deveria levar consigo. Elina sabia o quanto esses talismãs eram importantes para todos os elfos e guardou-o com carinho, no bolso do short.
– Tomarei cuidado, chefe. Pode deixar comigo.
– Sei que estará bem cuidado, Elina. Agora vá dormir. Vocês partem pela manhã.
– Sim, senhor – Elina começou a andar em direção a uma das saídas da plataforma que era a casa de Sear, mas antes de chegar ao corredor, parou novamente e virou-se para o chefe:
– Senhor?
– Sim, Elina? – respondeu Sear.
– O senhor disse que a elfa, Thea, possui um unicórnio?
– Sim, Elina, possui. Por quê? – perguntou Sear, curioso com a reação da menina.
– Por que eu nunca vi um… – Elina soltou mais um sorriso e seguiu seu caminho.
Sear ficou pensando que, se tudo desse certo, seria uma excelente experiência para a empolgada menina.
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By Jim Bruno Goldberg